terça-feira, 15 de abril de 2025

ALÉM DO BDSM: A VERDADE SOBRE AS RELAÇÕES DE PODER


Master Gladius


Antes do motivo, a minha trajetória

Antes de começar, é bom que fique claro que nem o que vou dizer, nem o que foi dito por todos os que já falaram sobre esse assunto é regra. Para se formar uma norma sobre algo, seria necessária a criação de algum tipo de federação para estabelecer uma convenção sobre termos e a dinâmica no BDSM... e isso não existe.

O que temos se limita ao seguinte: um grupo que leva adiante o termo BDSM como o que “explica” e representa o Universo das Relações de Poder. Termo esse criado, pensado e aprimorado por pessoas que nunca viveram o BDSM além das relações de fim de semana. É por isso que o termo foca nas práticas — e não no fundamento principal, que é o Poder.

E o que tem ocorrido ao longo dos anos (e fui testemunha disso tudo no Brasil) é a perpetuação desse termo em um tipo de "copiar e colar" mental, onde as pessoas simplesmente levam adiante o que leram, sem pensar um pouco no que estão lendo.

Uma enorme falta de pensamento crítico abunda e, quando se pede para a pessoa fundamentar, ela "copia e cola" a explicação ou se limita a um mero “aprendi assim”.

Aí, um indivíduo com veia dominante, recém-chegado à comunidade BDSM de São Paulo em 2002, depois de ter absorvido tudo o que podia nos quatro anos seguintes, cria um mosaico mental com tudo o que tinha aprendido em uma quase literal "terra de índio", pois as melhores informações circulavam na base do boca a boca. Ele percebe que a maioria das peças não se encaixava bem umas com as outras — e ainda sobravam muitos buracos (peças faltantes) para que tudo fizesse sentido.

Ah... para quem não percebeu, esse “um indivíduo” citado acima sou eu.

Em 2007, criei o Blog Diário de um Dominador e, nele, comecei a expor a minha visão disso tudo em meio ao turbilhão da minha própria evolução.

Desculpem, mas eu sou daqueles chatos que precisam que as coisas façam sentido — senão, eu não tenho paz.

E eu precisava muito dessa paz, pois ela envolvia a minha própria identidade nisso tudo.

Talvez seja pela minha própria estranheza... meu prazer nunca esteve nas práticas... estava no domínio em si.
E o fim de semana não bastava... eu queria isso todo o tempo.
E o “BDSM” não explicava nada disso — muito menos me mostrava um caminho para seguir nisso como estilo de vida.

Aí comecei a fazer algo que ia na contramão da maioria dos adeptos e iniciados:
Comecei a pensar, a discordar daquelas velhas opiniões formadas sobre tudo que circulavam como aprendizado... e a escrever a minha própria cartilha de como as coisas deveriam ser — uma que fizesse sentido para mim (e para pessoas alinhadas com a minha forma de pensar).

Toda essa introdução tem uma razão... o que vou falar daqui para frente tem a ver com raciocínio, vivência pessoal, observação do ecossistema à minha volta e experimentação via modelos mentais e tentativa/erro.

Aliás, foi muito mais nos erros do que nos acertos que extraí os melhores aprendizados e cheguei às primeiras conclusões mais fundamentais para mim.


Agora sim... vamos ao tema

E o tema aqui é: O que é, de fato, o tal BDSM?

E “aquele indivíduo” (no caso, eu) foi além do que esperava em sua busca e percebeu que:

  • BDSM é um termo carregado de estereótipos ruins, visto que já ouvi de recém-chegados coisas como: “É preciso gostar de dor e/ou gostar de apanhar para ‘ser’ BDSM?”. Para o mundo "lá fora", que ainda trata esse universo como “sadomasoquismo” (sem nunca ter sido, pois os praticantes sempre se nominavam “SM”), sempre que se fala de "nós", tem a ver com cordas, surra e roupas de couro.
  • O termo fala de práticas, e as práticas são apenas a forma como cada um erotiza o prazer que sente no exercício do poder.

Logo, BDSM tratando de práticas seria como se falássemos de culinária japonesa a partir dos seus pratos.
Citei esse exemplo em particular porque a culinária japonesa é algo que dificilmente é unânime — poucos gostam de tudo. Quando falamos dos pratos, é como se falássemos das práticas do BDSM, e isso é algo que separa as pessoas. Já falar da culinária japonesa em si ou sobre o poder nas relações já é algo que une a todos.

Existem alguns que vivem 24/7... eu conheço 3 casais... só que eles não filosofam sobre o assunto nem divulgam material que sirva de referência para quem quer viver esse tipo de relação. O único que começou a estudar e filosofar sobre isso, batizou o nosso universo de Relações de Poder e se dedica a transmitir essa informação a quem interessar possa, é "aquele indivíduo"... na verdade, este que vos fala.


Frases que nos dizem muito

A frase “Não existe vácuo de poder” é atribuída a Marco Antônio, quando ainda era General Romano. E ela não fala de relações puramente... ela fala da natureza humana.

Estas são duas outras frases que gosto muito de citar:

“Nada revela o verdadeiro caráter como o uso do poder.” – Robert G. Ingersoll

“Tudo nesse mundo é sobre sexo, exceto sexo. Sexo é sobre poder.” – Oscar Wilde

Estas frases também falam sobre a natureza humana — e não apenas sobre as relações em si.

Atenção, aspirantes a submissas: a frase “Nada revela o verdadeiro caráter como o uso do poder” carrega, no seu bojo, uma das melhores maneiras de se verificar a competência de um parceiro dominante em avaliação.


Tipos de relação: vertical, horizontal, baunilha e não convencional

Vamos à distinção fundamental das relações:

  • VERTICAL: com hierarquia (alguém no comando)
  • HORIZONTAL: sem hierarquia (liberdade absoluta)

Quanto às relações não convencionais (sexuais), temos:

  • Sexo com pessoas diferentes
  • Sexo em lugares diferentes
  • Sexo com fetiche (indumentária, brinquedos etc.)
  • Sexo com jogos de poder

O termo “fetiche”, no Brasil, tem dois significados:

  1. Amplo: traduz “kink” (tudo fora do convencional).
  2. Restrito: refere-se a práticas específicas sem necessariamente envolver poder.

Ninguém é obrigado a se fixar em uma única área. Todos podem transitar entre universos e práticas.


O nascimento do termo "Relações de Poder"

Por necessidade de dar significado ao que vivenciava, busquei por anos uma forma de nomear o que acontecia numa relação de poder que ia além da cama e do fim de semana.

Depois de muitas tentativas, percebi que a resposta estava bem diante dos meus olhos:

“Relações de Poder”

Foi esse o nome que cunhei — e que hoje vejo com orgulho sendo usado por outros — que me permitiu explicar o mais fundamental:

Tudo por aqui é sobre Poder.

Para existir, basta: uma ou mais pessoas dominando, e uma ou mais pessoas se submetendo, dentro dos princípios do SSC (Sanidade, Segurança e Consensualidade) — que, aliás, não são do BDSM... são da vida.

Independente de identidade de gênero ou preferência sexual.


Fim?

Sim. Pois todo o resto é sobre gosto. Ou seja, sobre BDSM — que para mim é uma sigla obsoleta para o todo, mas que ainda serve bem para o pessoal do fim de semana.


Master Gladius

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